11.29.2006

Porque é que as folhas caem?

Por altura do mês de Outubro, como é hábito em muitas salas de jardim de infância, um dos primeiros temas que surge nas conversas de manta, é o Outono. Quando surge esta oportunidade, aproveito e introduzo um novo livro de história, na Biblioteca da sala “O Outono”
A história possui como personagem principal o Pedro, um menino tal como os meus, que questiona-se ao longo da história sobre as transformações que observa na Natureza, desde os vastos tapetes de folhas até a alteração dos comportamentos dos animais nesta época.

Na altura do reconto, por parte das crianças surge uma dúvida: “Ó Cidália, porque é que as folhas caem?” de imediato remeto a pergunta ao grupo ao qual surge a resposta: “É porque é Outono!!!”
Sinceramente, fiquei preocupada naquela altura porque verifiquei que, de facto esta não era a verdadeira razão pela qual as folhas caiam. Se assim fosse, TODAS as folhas das árvores cairiam por altura do Outono, o que não é verdade.


Todavia, o Gonçalo – o menino que fez a pergunta – aceitou aquela resposta. Fiquei um pouco constrangida pela situação pois, esta não era a verdadeira resposta. Confesso que neste mesmo dia, fiz uma procura na Internet sobre este problema até que, cheguei até um site (perdoe-me o autor, mas não fiz o registo do seu endereço) onde apresentava uma experiência, ao meu ver, exemplificativa para crianças em idade pré-escolar sobre a causa do cair das folhas, principalmente no Outono.
Aguardei o Dia das Experiências pois, esta é uma das actividades que eu consagro na agenda semanal pois, considero importante que desde o Jardim de Infância as crianças possam ter oportunidade de se envolverem em actividades de carácter experimental ou seja, que após um problema verificado, construam as suas próprias hipóteses e possam, efectivamente verificá-las. Só assim tem lógica “fazer-se experiências no Jardim de Infância”. Fazer apenas por fazer, sem um problema específico e, sem “esmiuçar” o espírito crítico das crianças, não fará o mínimo de sentido e por ventura, não dará prazer à criança pois, não surge de um interesse seu.

Retomando ao que aconteceu na minha sala, no dia das experiências apresentei a experiência “Porque é que as folhas caem?” (o título original não era esse mas, o propósito era o mesmo). Para quem quiser fazê-la, apresento aqui o guião desta experiência.

Material:
- um lápis bem afiado
- 2 copos de papel
- terra
- um medidor de decilitros
- água
- guardanapos de papel

1 . Usa um lápis para fazer dez furos no fundo dos dois copos de papel

2. Enche cada um dos copos com cerca de 200g de terra. Pressiona a terra para ela ficar mais compacta.

3. Coloca um dos copos no congelador durante a noite. Deixa o outro copo na bancada da cozinha.

4- No dia seguinte, tira o copo do congelador e coloca cada um em cima de um guardanapo de papel. Depois deita meio decilitro de água em cada um dos copos e espera para ver o que acontece.

É importante frisar que estas actividades ao serem planeadas, devem ser antes testadas pelo educador porque assim, permitem guiar as crianças no decorrer da experiência. Mas, mais importante do que a própria experiência, são as questões que permitem guiar as crianças no decorrer da experiência.
Antes de iniciar uma experiência começo por anotar as hipóteses que são apresentadas pelas crianças sobre o problema em causa. Nesta experiência que tinha como alvo “Porque é que as folhas caem?” surgiram as seguintes hipóteses:

- “Porque é Outono.”
- “Porque ficam velhas.”
- “Porque o vento as abana e elas caem.”

Conversamos um pouco sobre estas hipóteses e verificamos, pela observação, que de facto são hipóteses válidas mas, como o papel do educador é de orientar todo o discurso proporcionando por vezes um “Brainstorming” de ideias, considerei a segunda hipótese apresentada pelas crianças como ponto de partida para o início da experiência que eu tinha programado: “É verdade, elas caem porque são velhas mas, porque é que as folhas ficam velhas?” Aí já foi mais complicado retirar da boca das crianças alguma palavra. Foi então que começamos por ir buscar terra ao nosso jardim e fazer os furos nos copos (aconselho fazer mesmo com um alfinete, é melhor). Depois enchemos os copos e em simultâneo havia sempre alguém a fazer o registo, por desenho, dos passos desta experiência.

Colocamos no congelador um copo (aconselho a ficar lá pelo menos 2 dias) e o outro na área das experiências.
Numa fase posterior exploramos pelo tacto os diferentes copos. Atenção, não permanecer muito tempo o copo do congelador nas mãos das crianças, porque começa a “suar” e modifica o resultado da experiência.
Foram feitas etiquetas com a identificação de cada copo, para que assim os responsáveis pelo registo assim o pudessem descrever melhor, e debaixo de cada um colocado um guardanapo.





Sugestão: fazer linhas com canetas de feltro em ambos os lados do guardanapo a alguma distância do copo, para que assim as crianças possam verificar melhor a “corrida da água” e “quem vai chegar primeiro”. Qual dos dois guardanapos molhou mais depressa? O do copo que tinha a terra fria ou o do copo que estava a temperatura ambiente?




A conclusão, evidente, de que a água passa mais depressa através da terra à temperatura ambiente do que através da terra fria foi a conclusão que as crianças chegaram. Mas, qual a importância desta conclusão?



Aqui entra novamente o papel do educador ao explicar que o mesmo acontece com a água que as raízes vão buscar a terra. Se a terra estiver muito fria é mais difícil que ela chegue as raízes. Por conseguinte, como é mais difícil as folhas irem “buscar” água às raízes “envelhecem” (mudam de cor) e por isso, há a sua queda.
Uma das coisas de que as folhas precisam para viver é de água!
A água que elas recebem é retirada à terra pelas raízes e transportada através do tronco e dos ramos até chegar às folhas.
Durante o Inverno as árvores têm mais dificuldade em ir buscar água à terra gelada. Para não morrerem têm de dar menos água às folhas. Quando as folhas deixam de receber água elas mudam de cor. Quando as folhas deixam de receber água, elas mudam de cor e acabam por morrer. Eis a razão porque, apesar de chover durante o Inverno as raízes têm dificuldade em ir buscar água à terra.

Agora, garanto-vos que quando perguntamos ao meu grupo qual a razão pela qual as folhas caem, surge mais uma resposta: “Porque a terra está gelada!!”.

Não ficamos por aqui. A partir desta experiência encontramos outro problema: “O que acontece as folhas velhas que caem das árvores e ficam no chão?” A investigação está a decorrer mas, o que importa aqui salientar é de que forma uma simples conversa deu azo a uma variedade de inquietações por parte das crianças.

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